Rua da Fé

quinta-feira, março 30, 2006

As manifestações em França e o problema do emprego hoje.

Os acontecimentos das últimas semanas em França, provocados pela introdução do chamado Contrato de Primeiro Emprego (CPE) têm suscitado muitos comentários.

A ser aplicada, a lei atinge os trabalhadores à procura do 1º emprego com idade máxima de 26 anos e visa flexibilizar o mercado de emprego, permitindo o despedimento sem justa causa.

Face à ameaça do despedimanto, a reacção natural de qualquer pessoa é resistir, pelo que não espantam as manifestações. No entanto, convém reflectir no seguinte:

Em primeiro lugar, este é um problema específico da França. Em Portugal vigora um modelo de contrato que pode ser bem pior para o trabalhador de qualquer idade, o Contrato sem Termo, em que qualquer das partes pode pôr fim ao contrato sem mais.

Em segundo lugar, é por volta dos 23/24 anos que os jovens saem das universidades, prontos para entrar no mercado de trabalho. Mas qual é a sua experiência, quem garante que será uma boa contratação? Qual é a empresa hoje que pode garantir a um jovem de 24 anos um trabalho para o resto da vida? Por isso se compreende que o legislador tenha estabelecido um período de 2 anos para este novo tipo de contrato.

Em terveiro lugar, é verdade que isto vai introduzir um factor de insegurança, sobretudo num país cuja política social de emprego criou uma mentalidade do pleno emprego e do emprego para a vida. Só que na realidade as coisas funcionam ao contrário. O modelo de empregabilidade actual assenta no igualitarismo, é pouco competitivo e oneroso para o empregador, provocando o aparecimennto de condições de trabalho muito mais precárias e degradantes para quem precisa de trabalhar.

O que se passa em França pode ser uma revolução para os franceses mas é uma pequena amostra do que é preciso mudar.

segunda-feira, março 27, 2006

A reestruturação da Administração Pública

O Governo anuncia hoje mais um pacote de medidas para tornar mais ágil a prestação dos serviços públicos.

São pequenas alterações, muitas das quais tão comezinhas, como por exemplo não ter de matricular os filhos todos os anos lectivos, simplificar os processos para a compra de casa, ligar os Centros de saúde em rede, permitindo marcar consultas nos hospitais a partir deles, agilizar a criação de empresas e associações, pequenos passos que vão facilitar em muito a vida dos portugueses.

A nossa Administração Pública está carecida de um ímpeto reformista do género. Há muito tempo que não tinhamos um 1º Ministro que soubesse ir buscar às universidades as pessoas certas para levar a cabo esta mudança, tecnicamente bem preparadas e a quem assegura o apoio político indispensável.
Muita coisa há a fazer mas é assim que se começa. Após um ano em funções, o Governo Sócrates vale bem mais técnicamente do que os dois anteriores. Só é pena os ministros do aparelho...

Os resultados da RTP.

A RTP apresentou resultados positivos pela 1ª vez em 15 anos. Alguém se lembra o mar de contestação provocado pela então entrada de leão do governo Durão Barroso? As greves, os directos, o chinfrim habitual....?

Infelizmente o impulso reformista não passou disso mesmo. A reestruturação então levada a cabo na RTP é um pequeno exemplo do que é necessário fazer para tornar o serviço público em Portugal mais eficiente, mais flexível e mais barato. Por isso mesmo era bom que a direita portuguesa meditasse no que andou a fazer quando passou pelo poder, na oportunidade que teve de trabalhar duro em prol do futuro dos portugueses. Mas não, preferiu cair no logro dos acomodados, fazer o jogo do centrão, enredar-se nas teias dos aparelhos... foi o que se viu.

Agora vê passar navios, enquanto a esquerda no poder, não tirando o pé do socialismo, vai pisando terrenos mais liberais, que à direita não tem sido senão conversa de café.

sábado, março 25, 2006

Momentos...I

Hoje tem estado um dia dos diabos. O vento, nesta zona da costa portuguesa e em dias de temporal, é frio, húmido e cortante, e as nuvens ameaçadoras prometem chuva em barda. Dias como este têm as suas vantagens, afugentam as pessoas da praia. Basta abrir uma nesga de sol, e lá vêm elas aos magotes, em passeio. Nem por isso deixo de pegar na bicicleta e cumprir a voltinha dos sábados de manhã.

Habituado a esta rotina, raras são as situações que desviam a atenção do prazer da prática desportiva e daqueles assuntos que nos vêm à cabeça enquanto a gente pedala, quase sempre de ordem profissional ou pessoal. Mas que raio, num dia onde não se vê vivalma, um velho, uma mulher e uma criança, ao frio e à chuva, estancados à beira da estrada, olhando em silêncio para o mar, fixados numa embarcação, onde um homem vai puxando as redes?

Que cuidados, que temores, que cumplicidades partilham eles naquele momento com ele, que nem o ribombar do mar consegue romper?

sexta-feira, março 24, 2006

A Europa reunida e a grande questão.

Como é da praxe, a UE realiza a sua cimeira da Primavera, e o que dela vai sair, pelo que se lê, é mais do mesmo, ou seja, muita conversa, muita promessa, muitas e boas intenções, mas não passarão disso mesmo.

À Estratégia de Lisboa segue-se agora a Estratégia de Crescimento e Emprego mas os objectivos continuam a ser os mesmo, dinamizar a economia, promover o crescimento, criar empregos, mantendo em paralelo o modelo social europeu.

O nosso José Socrates defendeu ainda "uma nova geração de políticas sociais", que já estamos carecas de saber. Ou seja, vira o disco e toca o mesmo.

A grande questão que nós europeus temos de resolver é esta: que Europa queremos? Queremos uma Europa onde o poder de decisão está nas mãos dos países-membros, como agora, em que se decide por unanimidade, em que se procuram sempre os consensos alargados, o que só é favorável aos países grandes, ou queremos uma Europa federal, com instituições supanacionais fortes, em que se decida por maioria qualificada, que fale a uma só voz no quadro da globalização, impondo-se não só económica mas também social e politicamente?

Esta é a grande questão que a Europa tem de enfrentar, o que obrigará a encarar o projecto constitucional europeu sem a tralha de raiz napoleónica típica dos franceces e a necessidade urgente de reformular as fontes de financiamento do Orçamento da UE, possibilitando o recurso ao individamento.
Isto sim, seria um empurrão de monta para uma Europa forte.

quinta-feira, março 23, 2006

Querem enganar quem?

Noticia o DN que o PS e o Governo querem travar qualquer iniciativa fracturante que surja até ao fim do processo do referendo sobre o aborto.

Tem isto a ver com a iniciativa de liberalização do divórcio, proposta pelo BE para a introdução de uma nova modalidade, já não por mútuo consentimento mas a pedido de um dos cônjuges.

Vitalino Canas justifica esta posição dizendo que o PS não quer discutir o casamento homossexual.

A resposta é no mínimo ridícula e hipócrita. O que tem isto a ver com a proposta do BE? Nada. Na verdade, todas as questões ditas fracturantes (divórcio, casamento entre homossexuais, aborto) têm a anuência do PS. A razão do ?não? reside única e exclusivamente no facto de não ser este o momento certo, numa decisão marcada pelo puro tacticismo político. O chumbo de Sampaio à iniciativa anterior serviu de lição. A futura aprovação da lei do aborto exige alguma reserva e tempo de espera, e este Governo não quer correr o risco de de cair mais uma vez na euforia legislativa do BE...

Mas os temas estão aí, e temos de nos preparar para eles.

terça-feira, março 21, 2006

Crise no CDS / PP

O CDS/PP atravessa um perí­odo de convulsões internas. Quando o lí­der, em vez de dirigir o partido do Caldas (ou do Parlamento) fá-lo de Bruxelas, às sextas, sábados e domingos, há um claro défice de liderança. Mas mais profunda ainda É a luta entre qual das linhas de orientação ideológica, a centrista, mais democrata cristão, ou a popular, mais liberal, deve determinar as linhas programáticas do partido no futuro.

Fazendo um retrospectiva desde Abril de 74, o que vemos é que o CDS, como partido de centro, nasceu para viver moribundo. Senão vejamos: 1) chegou tarde (foi o último partido a ser fundado), 2) foi corrido pelos outros dois partidos da esfera governativa, PS e PSD, do centro para a direita do espectro político, 3) os quais, ao longo do tempo, vez à vez, foram-se apropriando das grandes chaves que definem um partido Democrata Cristão da velha guarda, ocupando o centro, da esquerda à direita, não só fisicamente mas também ideologicamente. Em linhas gerais, muito do que defendia o CDS de há 30 anos defendem o PS e PSD hoje.

Sabendo que a ocupação do espaço polí­tico já está definido, o que não dá grande margem de progresso a um partido de direita e muito menos à existência de dois, colocam-se as seguintes questões: vale a pena manter-se fiel aos princí­pios democrata-cristãos, ou interessa mais ter um partido que se defina sem rodeios de direita? Que partido e que direita interessam a Portugal?

O partido de direita que falta em Portugal É um partido que não tenha medo de se assumir liberal, política, cívica e economicamente.

Para isso, o CDS deve dar lugar a um PP liberal. E este passo tem de ser dado sem tibiezas, senão corre o risco de até isso lhe fugir, quando vivemos sob o governo mais liberal da história da III República (Continua).

quarta-feira, março 15, 2006

Uma interessante pastoral vocacional

A proví­ncia espanhola de uma congregação religiosa de origem francesa - Irmãs da Caridade Dominicanas da Apresentação da Santí­ssima Virgem- resolveram fazer pastoral vocacional pela net. E criaram um sitio interessante: www.mivocacion.es. Fantástico o modo como provocam a reflexão das jovens que, eventualmente, queiram fazer um discernimento vocacional. "És fogosa? Apaixonada? Vistosa? Animada? Conheces bem o mundo e a vida? Talvez sejas a freira perfeita", lê-se na página da congregação criada em França em 1696.
"Se assim és" - diz-se a seguir - "podes ajudar os homens e as mulheres deste mundo. E não serás a primeira: Santa Maria Madalena, sem ir mais longe, também foi uma fogosa como tu".
Ao som de uma música misteriosa e austera, e decorada com quadros "exclusivos" da irmã Marie Sâraphie, a página tenta em francês, italiano, inglês e espanhol aliciar jovens devotas, perguntando-lhes se "gostam de sonhar", se são "lutadoras" ou se gostam de rezar. Falamos com a gestora do sitio, a irmâ Gemma. Disse-nos a religiosa que o sitio, aberto há um ano e meio, já recebeu 30 mil visitas, e que já respondeu a mais de dois mil e-mails de potenciais vocacionandas. Estas freiras sabem navegar na rede. S. Pedro também.... Era um grande pescador... Mudam-se os tempos .

terça-feira, março 14, 2006

Pelo bom senso

O mérito é um valor em extinção. Verificamos que começam a ser poucos os comentadores p0r mérito próprio. A maioria aparece na comunicação social para enviar recados de alguém. Para dizer o que os grupos de pressão querem que se diga.
Nada haveria a contestar - até porque um jornal, por exemplo, deve ser expressão das várias sensibilidades. Mas, também começa a desaparecer esse pluralismo. Há grupos de pressão a impor-se. Os responáveis pelos órgãos de comunicação social deixam-se, claramente, pressionar. Há jornalistas que assinam petições e, simultaneamente, fazem notí­cias sobre esses mesmos assuntos. Pior: o modo como defendem as suas posições. Geralmente, atacam pessoas e instituições credíveis. E fazem-no sem noção nem respeito pela cultura e pela história.
As pessoas que vão contribuir com conteúdos para este blog têm uma característica comum: são sensí­veis aos valores cristãos e apenas se representam a si próprios. E vão empenhar-se em denunciar a ignorância. Sobretudo a mais atrevida - a dos comentadores convencidos que a história nasceu no mesmo dia em que eles próprios vieram ao mundo. Saudamos todos os que navegam por estes mares de saberes, e pedimos que divulguem o nosso blog. E partilhem connosco os vossos doutos comentários.

quinta-feira, março 09, 2006

Está aberto o "blog" rua da Fé....