Fé e razão
De todo o relambório suscitado pelo discurso de Bento XVI, poucos foram os que, efectivamente, o leram e perceberam a questão central suscitada pelo Papa: Pacheco Pereira, no Público, cujo artigo pode ser lido aqui ao lado no Abrupto, e Anselmo Borges, no DN. O resto é só política.
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O conceito moderno de razão baseia-se na síntese entre platonismo (cartesianismo) e empirismo. Só as ciências naturais poderão reivindicar certeza, pois detêm o monopólio da cientificidade, que deriva da sinergia de matemática e experiência. Assim, não admira que as ciências humanas tenham procurado aproximar-se deste critério. Por outro lado, este método exclui o problema de Deus, "fazendo-o aparecer como problema a-científico ou pré-científico".
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Torna-se, porém, claro que, nesta concepção, o próprio homem sofre uma redução, já que as perguntas radicais sobre o fundamento e fim últimos e as questões da religião e da ética não encontrariam lugar no espaço da razão universal, devendo ser deslocadas para o âmbito da mera subjectividade.
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Não se pode voltar atrás em relação ao iluminismo. Mas impõe-se superar a limitação da ciência ao que é verificável na experimentação e abrir a razão à amplidão de todas as suas dimensões, isto é, não se pode ficar encerrado na razão positivista.
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A própria razão, feito todo o seu percurso, mostra a sua abertura à transcendência. Há a estrutura racional da matéria e a correspondência entre o nosso espírito e essa estrutura. Isso é um facto, mas a pergunta sobre o porquê desse "dado de facto" já não é do domínio das ciências naturais, mas da filosofia e da teologia.
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