Rua da Fé

segunda-feira, outubro 23, 2006

E assim nasceu a ópera


Compositor na transição entre o Renascimento e o Barroco, Cláudio Monteverdi teve o mérito de estabelecer os parâmetros que orientam a construção de uma ópera, os quais permaneceram em linhas gerais até hoje: um drama em música utilizando os elementos típicos do teatro, tais como a cenografia, os vestuários e a encenação. A letra da ópera (conhecida como libreto) é cantada em vez de falada, e uma orquestra acompanha os cantores.
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Em Orfeu, fábula em música, Monteverdi consegue uma orquestração e um poder dramático muito fortes. Composta em 1609 para o Carnaval de Mântua, a partir de um poema de Alessandro Striggio, a história baseia-se no mito helénico de Orfeu. A trama é descrita em imagens musicais expressivas e as melodias são lineares e claras. Toda a acção desenrola-se ao longo de 5 actos, com um prólogo:
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Prólogo - Um "Espírito da música" explica o poder da música, e especificamente o poder de Orfeu, cuja a música, tão poderosa, é capaz de mover os próprios deuses.

1º Acto - Orfeu e Eurídice comemoram o seu dia do casamento.

2º Acto - Orfeu recebe a notícia terrível da morte de Eurídice e resolve descer ao Hades para resgatá-la.

3º Acto - A Esperança acompanha Orfeu ao Hades. À entrada, Orfeu encontra Caronte, o guardião, a quem tenta convencer, pela beleza do seu canto, a deixar passar.
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4º Acto - Perséfone, rainha de Hades, é seduzida pela música de Orfeu, e persuade o rei de Hades e libertar Eurídice, a que este aceita com uma única condição: que ele não olhasse para ela até que ela, outra vez, estivesse à luz do sol. Ele não olhou nenhuma vez para trás, até atingir a luz do sol. Mas então se virou, para se certificar que Eurídice o estava seguindo. Viu-a por um momento, perto da saída do túnel escuro, perto da vida outra vez. Mas por olhá-la, ela se tornou de novo um fino fantasma, perdendo-a de novo.

5º Acto - Orfeu é consumido pela amargura, e Apólo, seu pai, vem em seu socorro. Com pena, permite que se reúna novamente com Eurídice.
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Na orquestração, Monteverdi distribuiu instrumentos específicos às diversas partes, usando 15 violas, 2 violinos, 2 flautas grandes e 2 normais, 2 oboés, 2 cornetas, 4 trombetas, 5 trombones, 2 clavicórdios, harpa, 2 órgãos pequenos, um órgão portátil de lingueta ("regal").

Para ouvir Orfeu, fábula em música, com a Capella Reial de Catalunya, sob a direcção de Jordi Savall, gravado em Janeiro de 2002, no Grand Teatro del Liceo, Barcelona:

- Orfeu - Marilia Vargas como ninfa;

- Tocata ritornello Dal mio permesso amato;