Laicismo raivoso
D. Manuel Martins, sem papas na língua, em discurso directo para O Primeiro de Janeiro:
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Secularização é diferente de laicismo praticante, de laicismo raivoso. Nós estamos a entrar, em muitas áreas da nossa sociedade, num laicismo raivoso.
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Um exemplo.
Vamos lá imaginar..., eu podia falar de outros exemplos mas esta veemência com que uma associação criada recentemente, que tem como finalidade abandonar todas as crenças, é uma ética e moral republicanas, não sei bem o que isso seja, parece que é aquela que está dependente da Lei e não tem nada a ver com os fundamentos da natureza, com a nossa essência, tudo fica na rama. As leis é que fazem as coisas boas ou más, o que é absolutamente impensável, mas há movimentos na sociedade portuguesa, organizados, pessoas e grupos isolados, e grupos organizados, que pretendem que todos os símbolos religiosos sejam afastados das instituições públicas. Ora nós não podemos esquecer que isto faz parte da nossa civilização cristã e com esta roupagem do catolicismo. Nós somos um país que nasceu cristão, que tem o seu ADN cristão, a sua raiz cristã, a sua identidade cristã, a sua tradição cristã e todas as formas de manifestação festivas, têm todas a marca cristã. Até nas nossas expressões artísticas.
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Nós sabemos que esta raiva laicista vai até ao ponto de exigir que nos salões paroquiais ou de instituições de solidariedade social dependentes da Igreja, onde porventura se realizem votações para o referendo, em ordem ao referendo, que se retirem todos os símbolos religiosos que lá existirem. Ora, estamos a falar de Cristo crucificado, Nossa Senhora? Eu posso dizer assim: eu não tiro. Isso é uma agressão à nossa civilização, à nossa liberdade. Esta instituição é cristã, católica?eu não tiro. Agora imagine-se que vem uma Lei que manda tirar. Os responsáveis podem dizer que não tiram e dizer também que a sala está à disposição, mas são eles que têm que assumir a responsabilidade enquanto a sala está «alugada». Esta segunda posição também pode ter consequências muito gravosas. Até não sei o que será melhor. Se eu responsável da instituição e disser ao meu povo o que se passou, como por exemplo: eu não consenti que se tirassem as imagens, mas se eles o fizessem, a responsabilidade era deles porque a sala tinha sido cedida. Creio que era muito pior, para eles.
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Sabe, fui para Setúbal em 1975, no Verão quente. A revolução de Abril já se tinha operado e estávamos no tempo do chamado PREC, no tempo de uma maluqueira nacional, que eu experimentei na carne, no coração e na alma. Nessa altura de desorientação e sobretudo de uma movimentação que foi aproveitada com uma grande violência pelo partido comunista, e que tinha uma implantação privilegiada naquelas zonas, que é uma terra maravilhosa e de gente maravilhosa, mas às vezes meia dúzia de pessoas dão o tom a uma terra. Havia uma greve na Lisnave, e eram meia dúzia de activistas de extrema-esquerda que ficavam à porta e não deixavam entrar os outros. Faziam um túnel e enxovalhavam todos os que passavam para trabalhar, e depois fotografavam-nos e colocavam as fotografias, as fotocópias, nas instalações da Lisnave. De modo que é preciso ter isto em conta para não correr o risco e dizer que eram todos. Aquilo era comandado por uma força que estava latente e que depois se manifestou. Nessa altura de loucura nacional houve um grupo revolucionário que no hospital de Setúbal ousou retirar todos os símbolos religiosos das enfermarias e dos quartos, ligando aquilo à Igreja, a uma Igreja que, alegadamente, esteve ligada ao regime. Só que depois a comissão de trabalhadores reuniu-se, e alguém se levantou a exigir que os crucifixos fossem postos no mesmo lugar. Porque se havia alguém quem não tinha feito mal algum aos trabalhadores era aquele que estava na cruz. E tudo voltou ao seu lugar. O nosso povo é cristão e o respeito pelo sagrado faz parte da natureza. Portanto estamos num tempo de laicismo raivoso.
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