Rua da Fé

quinta-feira, julho 13, 2006

Portugal a arder: a morte social do interior

Ciclicamente, verão após verão é o que se vê. O fogo a lavrar serras e serras. Já aqui escrevi sobre este assunto. Travar este ciclo de desvastação é uma urgência. Porque carga de água nenhuma medida tem resultado? Algumas respostas podem ser encontradas na entrevista concedida por Pedro de Almeida Vieira ao DN:
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Somos o país com maior taxa de desflorestação causada pelos fogos a nível mundial. E isso aconteceu ao mesmo tempo que houve investimentos enormes nos meios de combate. A área ardida aumentou quase proporcionalmente aos gastos.
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Também sempre estranhei a exagerada tónica que se dá ao mito do incendiário, que surge como bode expiatório para desculpar as atitudes de negligência da maior parte da população. Constatei ainda que, nos últimos cinco anos, só 4,5 % dos fogos foram investigados. E que onde há mais incêndios não há mais investigação.
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Não houve um único governo que tenha levado a sério este problema. Ainda alimentam mais os mitos, como o dos malvados que metem fogos. Ao nível da legislação, fiz uma comparação da que foi produzida nos últimos 30 anos e é basicamente igual. Por exemplo, fumar na floresta já era proibido nos anos 70.
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[O Governo t]em de tomar uma decisão de fundo que é mudar completamente o sistema e assentá-lo numa estrutura profissional. Há uma má distribuição das corporações, pois onde temos mais área ardida é onde há menor capacidade de intervenção. Os meios aéreos têm sido um negócio que deixa muito a desejar, porque não são eficazes, não estão bem localizados e o seu uso não é adequado. Não é sensato que Espanha investigue 85% dos fogos e nós 4,5%; que os governos tenham deixado as autarquias permitir a construção em área florestal; que os postos de vigia consigam localizar apenas 13% dos incêndios; e que o Governo tenha medo de fazer uma avaliação à intervenção dos bombeiros. Devia ser criado um pacto a nível político para criar estabilidade e se lançarem políticas de fundo. Não podemos admitir que um governo tenha um ano de graça que justifique a desgraça. Outro problema estrutural é o despovoamento rural, a crise florestal e a crise agrícola. Não podemos esperar milagres quando o País se desertifica no interior. Inverter isto agora é muito complicado. Temos de reconhecer que não podemos ter a floresta que gostávamos de ter e que há situações em que reflorestar é perpetuar a desgraça. E do ponto de vista económico é desastroso.
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O fogo está a ser a última machadada no despovoamento do interior. É a morte social de algumas regiões do País.
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Os resultados da investigação levada a cabo por este investigador podem ser lidas no livro Portugal: o vermelho e o negro, a lançar hoje e discutidos aqui.