Rua da Fé

sábado, outubro 14, 2006

Lendo os outros

Nem de propósito, a opinião de Sarsfield de Cabral no DN, sobre o esforço reformista deste Governo:

O Governo lançou algumas medidas que, se forem continuadas e alargadas, poderão vir a conter a médio prazo a despesa corrente do Estado. Medidas ditas impopulares, que suscitaram a revolta de muita gente: juízes, magistrados do Ministério Público, notários, médicos, enfermeiros, professores, militares, forças policiais, funcionários públicos em geral, autarcas, Governo Regional da Madeira, etc.
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Quando as contestações começaram a fazer-se sentir, não faltou quem previsse um triste futuro para Sócrates e o seu Governo. Puro engano: apesar dos protestos e manifestações, o primeiro-ministro mantém uma invejável posição nas sondagens.
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A chave do mistério está na consciência que a opinião pública portuguesa tem, hoje, de serem indispensáveis medidas duras para equilibrar as contas do Estado. Poderemos não gostar de algumas delas, sobretudo quando nos atingem. Mas pressentimos não poder fugir a elas, sob pena de o País ficar condenado à estagnação. Por isso as medidas impopulares têm-se revelado, em certo sentido, populares.
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O que permite a esperança de que o Governo não afrouxe na sua "obsessão do défice". E que faça o que falta fazer, que é o mais difícil: reformar a sério o Estado, única maneira de cortar na despesa corrente sem paralisar os serviços.
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Por isso são preocupantes as notícias de atrasos na reforma do Estado. Mas um primeiro teste não tarda. A nossa administração pública custa, em salários, 15% do PIB, contra 11 % na média europeia. Quantos irão para o quadro de excedentários?