A economia, a imigração e os seus problemas
A economia portuguesa teria tido um crescimento negativo se não tivesse recebido o contributo de milhares de imigrantes que vieram trabalhar para Portugal, entre 1995 e 2005. Nesta década, a riqueza produzida por cada uma das pessoas que vive em Portugal (PIB/per capita) aumentou ao ritmo de 1,6% a cada ano, mas só porque recebeu o contributo de trabalhadores vindos de países terceiros. Sem contar com o efeito da imigração, em 2005 Portugal estaria mais pobre do que estava dez anos antes, indica um estudo feito pela Caixa Catalunya e ontem divulgado pela imprensa espanhola.
País de emigrantes, o fenómeno da imigração constitui um desafio à tolerância e abertura do povo português. A imigração não é um perigo, o imigrante não nos vem roubar o emprego. Antes pelo contrário, vem disposto a fazer o que a generalidade não quer. E do lado de quem imigra há uma realidade que nos deve preocupar, como nos relata D. Dionisio Lachovicz (Agência Ecclesia):
Ao caírem os muros e rasgarem-se as cortinas de ferro, o mundo inteiro percebeu o mal que o sistema soviético ateu conseguiu fazer nas pessoas e na sociedade, além da falência total do seu sistema económico. Nessas regiões apareceram então outras cabeças da serpente do mal... A falência do sistema soviético gerou novas estruturas da morte. O índice de mortalidade passou a superar o dos nascimentos. A Rússia e a Ucrânia têm hoje o maior índice de abortos no mundo. Surge a indústria do sexo, a exploração e o tráfico de mulheres.
Milhões de pessoas do Leste Europeu foram forçadas a emigrar em busca de pão, a abandonar as terras que são consideradas os celeiros da Europa. As imensas riquezas desses países foram parar às mãos de poucos oligarcas. Como consequência desse fenómeno pós-soviético, no decorrer dos últimos 10 anos, a população da Ucrânia diminuiu em cerca de 7 milhões de pessoas.
Os países industrializados da Europa deparam-se actualmente com o novo fenómeno, o da imigração de povos do Leste Europeu, na sua maioria de procedência eslava, de escrita com alfabeto cirílico, cultura e ritos religiosos diferentes. Nós somos testemunhas desse processo e hoje foi-nos dada a oportunidade de mostrar uma faceta dessa emigração, da cultura e rito oriental próprio desses povos: o "segundo pulmão da Igreja", expressão muito familiar ao saudoso Papa João Paulo II.
No entanto, a busca pelo pão em terras estrangeiras, provoca a quebra dos laços familiares na terra natal. O pai imigra para Portugal, a mãe vai para a Itália. Os filhos ficam por conta das avós. Está a surgir a realidade do órfão virtual: os meninos de rua abastecidos com o dinheiro enviado pelos pais. Meninos de rua diferentes, com dinheiro no bolso, mas sem o calor e a ternura da família. A rua traz a droga e o sexo fácil. O sexo como dom de Deus e fonte de vida transforma-se assim em indústria da morte.
Como resolver os grandes problemas duma imigração que é sequela de um sistema injusto e criminoso? Como recuperar o sentido da vida, da família, da castidade, da pureza num contexto saturado de dor, separação e fortíssimas tentações de infidelidade? É possível ser honesto num mundo de mentiras e exploração? É possível ainda viver a cultura da vida dentro do contexto da cultura da morte?
Combater as redes de tráfico e exploração de imigrantes não implica criar dificuldades ao processo de legalização e de reintegração das famílias. O imigrante é também um factor positivo para as sociedades de acolhimento, vem em busca de trabalho para sustentar a família, melhorar a sua condição de vida, traz conhecimento e saber.