Rua da Fé

quinta-feira, novembro 30, 2006

E ao 3º dia...

Depois da Santa Sé se manifestar positivamente pela aproximação e a integração da Turquia na UE, Bento XVI convidou os cristãos a renovar a consciência da Europa nas suas raízes, tradições e valores cristãos, para lhe voltar a dar uma nova vitalidade.
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Na Turquia, num contexto certamente difícil, Bento XVI responde assim aos Migueis Sousa Tavares que andam por aí.

A não perder

(Clique na imagem para ver Bathtime)

Amanhã à noite todos os caminhos vão dar à Aula Magna. Às 21,30, Stuart Staples, a voz dos Tindersticks, sobe ao palco, sózinho, no primeiro dia do Festival Radar, para encher a noite de Lisboa com as suas canções, emocionais, profundas, negras, belas e elegantes.
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Por mais deprimentes que possam ser, elas celebram a vida.
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Aqui fica mais um cheirinho com Travelling Light.

sábado, novembro 25, 2006

Lavar os olhos

A reflexão de António Rego, via Agência Ecclesia:
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Nada tem um ângulo único. Tudo pode ser visto de outro modo, observado com outro olhar, interpretado com outro código. Dizemos, para nos entendermos, que o mundo não é a preto e branco.(Diz-se até, para complicar, que uma foto a preto e branco revela melhor a alma dum rosto). Mas não podemos reduzir o planeta à nossa pequena casa, nem encarcerar os séculos nos estreitos minutos das nossas vidas.
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Depois, há pessoas cuja vida é olhar o mundo, as coisas, a gente, os acontecimentos. Contam e cantam, escrevem e dizem os tons e os sons das realidades e das fantasias, dos projectos e frustrações, dos amores e amuos. Espelham e espalham acontecimentos, fazendo chegar ao resto do mundo por jornais, letras e satélites, a sua forma de ler as cartas da vida que a transparência das comunicações favorece. Os pontos cardeais deixam de ser em cruz e aconchegam-se a uma intimidade de família humana próxima, como que à lareira, a contar e ouvir as mesmas histórias. É a nossa condição humana, peregrinos nesta travessia constante que nos faz conhecer e amar o próximo e o distante.
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E também azedar com os dissabores da vida e as desistências de projectos nunca alcançados à mistura com erros teimosamente repetidos. Assim nos perdemos em desencantos, quase não consentindo o vislumbre da esperança sobre o tempo e a própria eternidade. Por isso o mundo se narra, quantas vezes, nos seus destaques de contra -luz tirando mais prazer do turvo que da clara transparência da alegria.
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Cada um vê o mundo como quer. Conta-o como entende. Mas a nossa vocação é mais alta que as nossas histórias mesquinhas. E os narradores da vida, jornalistas do quotidiano e do imperecível, têm obrigação de se não fechar no ângulo apertado do medo e do desamor. Para se ver bem o que quer que seja é preciso ter os olhos lavados. E felizes os que se comprazem em espalhar boas notícias.

sexta-feira, novembro 24, 2006

E o mundo pula e avança


Por sua causa se comemora a 24 de Novembro o Dia Nacional da Cultura Cientifica, e precisamente hoje, faz cem anos que nasceu: Rómulo de Carvalho, cientista e poeta, um personagem singular do século 20 português. Para mim será sempre António Gedeão, o poeta da minha juventude.
Arma secreta
Tenho uma arma secreta
ao serviço das nações. Não tem carga nem espoleta
mas dipara em linha recta
mais longe que os foguetões.
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Não é Júpiter, nem Thor,
nem Snark ou outros que tais.
É coisa muito melhor
que todo o vasto teor
dos Cabos Canaverais.
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A potência destinada
às rotações da turbina
não vem da nafta queimada,
nem é de água oxigenada
nem de ergóis de furalina.
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Erecta, na noite erguida,
em alerta permanente,
espera o sinal da partida.
Podia chamar-se VIDA.
Chama-se AMOR, simplesmente.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Adriano Moreira chumbado

Todos sabem como é pesado, fechado e ineficiente o sistema de avaliação existente nas universidades portuguesas, e que precisa urgentemente de se adequar às exigências de garantia de qualidade decorrente do processo de Bolonha. O nosso ensino superior é insatisfatório. Neste sentido, Mariano Gago decidiu há um ano atrás proceder à avaliação internacional das universidades portugueses.
O relatório foi apresentado ontem pela European Association for Quality Assurance in Higher Education (ENQA) e a primeira conclusão é que chumba de alto a baixo o trabalho do CNAVES.
A partir das conclusões deste relatório, podemos tirar lições. É prioritário rever o sistema. Mas será verdade que o relatório não foi entregue oficialmente ao CNAVES, que tomou conhecimento dele por portas travessas e não institucionais?

terça-feira, novembro 21, 2006

Dados esquecidos no discurso do 1º Ministro

Um estudo recente revela que o abandono escolar aumentou em Portugal, passando de 38,6% em 2005 para 40% em 2006, enquanto a média comunitária continuou a descer.
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Depois dos milhões que se vêm investindo na educação há mais de uma década, com o nº de alunos a diminuir drasticamente, como explica isto, Sr. 1º Ministro?

segunda-feira, novembro 20, 2006

Senador


Com uns dias de atraso, não posso deixar de partilhar da evocação de João Gonçalves a Ramalho Eanes. Há pessoas que ficam patetas com a idade. É preciso nomes? Outras há que aprendemos a apreciar, pela sua ponderação, serenidade e bom senso. Sabem estar. São como o vinho do Porto. Eanes é um deles.

Lembram-se da Comissão Fábrica?

Primeiro foi despedida, agora é o relatório que vai mesmo para o galheiro. Em linhas gerais, o relatório propõe:
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1) um sistema de remuneração da função pública, assente no mérito e na avaliação do desempenho, eliminando assim o actual regime baseado na antiguidade e na promoção automática;
2) definir plafonds para a atribuição de prémios, promoções, suplementos e actualizações salariais;
3) eliminar o carácter rígido, moroso e burocrático dos procedimentos de recrutamento e promoção.
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Mas a questão mais polémica tem a ver com o vínculo. Portugal é dos países com um regime de contratação pública mais rigída. A grande maioria dos funcionários (81,7%) tem o vínculo vitalício, não obstante o aumento do nº de contratos individuais de trabalho. Céptica em relação ao actual regime de vínculos - pela rigidez, falta de responsabilização, dificuldade de afastar um funcionário nomeado (só por motivos disciplinares) e proliferação de formas contratuais -, a Comissão recomenda a unificação da forma de constituição de vínculos do emprego público. Nada justifica a distinção entre nomeados e contratos de provimento. novas formas contratuais, que devem ser aplicadas a todos os funcionários.
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Contra a recomendação do relatório, que aconselha que a reforma aponte para a concretização de um regime comum, ou padrão, aproximado do regime laboral aplicado ao sector privado e de um regime especial, mais próximo de um modelo estatutário - ou seja, tornar a actual regra em execepção e vice-versa, tudo leva a crer que o Governo vai deixar cair o regime unificado dos vínculos do emprego público, deitando por terra uma das medidas mais importantes para a Reforma da Função Pública. Pelo menos é o que parece ter prometido aos sindicatos do sector, com quem vai agora iniciar conversações.
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Já vi este filme. Sócrates segue os passos de Durão Barroso.

sexta-feira, novembro 17, 2006

In Memoriam - Milton Friedman (1912-2006)


No final da década de 70, Milton Friedman foi persuadido a produzir um programa para a televisão, apresentando a sua filosofia económica e social. Deste esforço resultou a série Free to Choose (disponível aqui em espanhol), uma série composta de dez programas de uma hora cada, com um documentário seguido de discussão.

Para lembrar a sua obra, nada melhor do que recordar um evento realizado em 2003, sobre o Legado de Milton Friedman. Dele fazem parte artigos assinados por autores como Tyler Cowen, Ben Bernanke, James Gwartney, Allan Meltzer, Gary Becker, Peter Boettke, Terry Anderson e Richard Stroup.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Buh


Domesticado o partido, todo o discurso de José Sócrates no encerramento do congresso do PS foi virado para o país. Do muito que disse, passou quase despercebido este parágrafo:

A economia está melhor, este ano vai ter um crescimento maior do que nos três anos do Governo anterior; estamos a criar mais emprego e o desemprego, finalmente, parou de crescer; as metas de redução do défice estão agora a ser cumpridas, sem truques nem fingimentos, dando confiança à economia e aos agentes económicos (p.6).
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Pois é. Teria passado despercebido, não fosse o Tribunal de Contas detectar uma despesa de 374,6 milhões de euros efectuada em 2005 à margem do Orçamento do Estado, relativa a gastos feitos pela Direcção-Geral do Tesouro, e que acha «inaceitável».

quarta-feira, novembro 15, 2006

Sobre a dita TLEBS

Sabem que estão a ler um poste de alguém que tem um nome próprio, que é humano e animado? E que o aparelho que está à vossa frente é um nome comum, concreto, contável, não humano e não animado? Pois é, já ficaram a saber como a partir de agora se classificam essas palavras.
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Tudo isto graças à famosa Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário (TLEBS), que ninguém sabe ainda bem o que é, mas que deixaou em pânico os professores de português por esse país fora.
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Com as dificuldades que se conhecem na aprendizagem e domínio da língua, como será daqui para a frente, se nem os professores dominam os termos?

terça-feira, novembro 14, 2006

Lendo os outros

Não viver acima das suas posses, atacar a corrupção, preservar a independência dos tribunais, acabar com a burocracia sem sentido, apostar na educação como pilar central do desenvolvimento e habilitar as mulheres, eis alguns dos conselhos de Augusto Lopez Claros, Editor do Relatório da Competitividade Global 2006-2007 do Fórum Económico Mundial:
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A globalização aumentou a nossa capacidade para aprendermos uns com os outros. As experiências de desenvolvimento bem sucedidas dos últimos 40 anos estão bem documentadas e, agora, bem conhecidas. O que falta com frequência é vontade política e uma boa governação. Mas as opções estão aí e os governos que fizerem as escolhas correctas estão a desencadear processos de crescimento auto-sustentado, para benefício dos seus respectivos povos. Na era da globalização os países que projectarem políticas baseadas nas lições acima continuarão a prosperar; para os outros o processo de desenvolvimento será mais lento e as suas sociedades ficarão para trás.
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Um artigo para ler na integra, no DN.

segunda-feira, novembro 13, 2006

Os pagadores das promessas de Sócrates

As multinacionais fecham as portas a caminho de paises que ofereçam mão-de-obra mais qualificada e barata, os funcionários públicos andam com o credo na boca com medo do amanhâ, a perspectiva dos recursos humanos mais qualificados é o desemprego, metade das universidades não tem dinheiro para pagar salários em 2007, mas o querido líder promete ao país subir o salário minímo nacional para os 400 euros.
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Que raio de promessa é esta, se quem a vai pagar são as pequenas e médias empresas?
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Vai ser bonito vai... Se já nem os imigrantes nos querem.

domingo, novembro 12, 2006

Lendo os outros

A opinião no DN de António fidalgo sobre a (des)promoção da ciência em português e do fomento de uma cultura científica na sociedade portuguesa:
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Mas a subserviência do MCTES à língua inglesa não é de agora. De há alguns anos a esta parte que a investigação em Portugal só é financiada pelo Estado se os projectos aos concursos da FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia forem submetidos em inglês, seja qual for a área científica.
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Por experiência, conheço bem esta área, e o dilema é difícil de resolver. É importante que a produção científica feita em Portugal seja transmitida em português, há um espaço a proteger. Mas a ciência é hoje uma área totalmente globalizada, não podia ser de outra forma. O critério nas avaliações das universidades, dos Centros de Investigação ou dos projectos de I&D é estrictamente científico. Os peritos vêm de toda a parte do mundo. Em que língua pode trabalhar um painel de avaliação composto por um sérvio, um italiano, um chinês e um francês? Seria bom que o português fosse língua de comunicação nos fóruns internacionais, que a comunidade científica internacional pudesse ler artigos em português. Mas infelimente não é possível. Nem em português, nem em chinês, nem em japonês, nem, nem, nem .... Esta é a realidade.

sábado, novembro 11, 2006

O liberalismo à portuguesa

O poste anterior tem a ver com este. A visão liberal predominante em Portugal foi aquela que triunfou no braço de ferro protagonizado por Passos Manuel e Alexandre Herculano. Ao passo que este defendia um desenvolvimento sustentado a partir do ensino e da formação, Passos Manuel defendia o investimento nas infrasestruturas, pontes, estradas e por aí fora. Nem é preciso dizer quem levou a melhor. Derrotado, Herculano retirou-se para a sua Quinta de Vale de Lobos em Santarém.
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Desde então, quando se fala de desenvolvimento em Portugal fala-se dos nomes de ministros do fomento que deixaram obra, Hintze Ribeiro, Fontes Pereira de Melo, Duarte Pacheco, Ferreira do Amaral...
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Vem isto à memória a propósito do artigo de Sarfield de Cabral no DN, sobre os investimentos que se avizinham:
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O entusiasmo pelo TGV lembra-me a afirmação de um deputado na Assembleia Nacional ainda no tempo de Salazar: um país a sério tem de possuir uma siderurgia. Ora, naquela altura, vários países europeus altamente de-senvolvidos ou nunca haviam tido siderurgias ou estavam a fechá-las. Viu-se no que deu a nossa siderurgia.
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Ontem como hoje, as coisas mantém-se na mesma. Para mal de todos nós.

Gente de vistas curtas


Ainda não saiu do papel e já custou 86,6 milhões de euros. Só para estudos. Depois de errarem na escolha do tipo de bitola, de desperdiçarem milhões na modernização da linha do Norte, os nossos engenheiros dos transportes decidiram que o TGV é que era. Com as indefinições sobre o traçado (T deitado, o L ou o Pi), o brinquedo chega a Portugal 30 anos atrasado.
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Contas feitas, a brincadeira ficará em 8,4 mil milhões de euros, 22% dos quais pagos pela UE. Se Portugal tivesse tomado esta opção em 1988, o apoio seria de 80%. Continuamos, tal como no século XIX, sem aprendermos nada. É por estas e por outras que se percebe porque somos um país adiado.

E o destaque da noite vai para...

Almeida Santos, claro está.
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O circo estava montado, tudo encenado até aos últimos pormenores, tudo previsto para que os directos dos telejornais não falhassem a intervenção do querido líder.
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Só que o Presidente do partido ensaiou mais um dos seus discursos à Fidel. Rezam as crónicas que falou de tudo, da questão energética à explosão demográfica, da "predação ecológica" à revolução biomolecular, passando pelos genes da mosca-do-vinagre.
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Conclusão e moral da história: Sócrates só falou às 21.30, já os portugas estavam a levar com as Floribellas.

sexta-feira, novembro 10, 2006

Pensar a esquerda

Preocupada com o rumo pós-Sócrates, o que resta da esquerda, a verdadeira, está a fazer o seu deserto. É que isto não toca só à direita. Reunida para reflectir o problema, discutiu o que é ser de esquerda, e as conclusões foram, no mínimo, brilhantes:
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Para uns, ser de esquerda é ser liberal ("é privilegiar a liberdade em relação à produtividade", António Mega Ferreira), para outros é ser céptico (ter "um perfil e um temperamento que cultivam a inquietação da dúvida, contra o conforto da certeza" Nuno Brederode Santos), há os holístas que não chegam a conclusão alguma ("Este é um tema de inesgotável debate e de viva controvérsia que, tratado em poucas palavras, conduz quase fatalmente a fórmulas simplificadoras ou empobrecidas" Vítor Dias). Há mesmo quem recuse a esquerda ("a esquerda é incompatível com embustes e mentiras". Por isso, "o estalinismo, o maoísmo e o kimilsunguismo não são de esquerda" Mário de Carvalho), ou quem pense outra coisa que não tem a ver só com a esquerda (ser de esquerda é manter "uma posição inconformada e inconformista perante as injustiças" Helena Roseta). Há, claro, a velha esquerda ("é avisar toda a gente de que é preciso acabar com o capitalismo - antes que ele acabe connosco" Francisco Martins Rodrigues), e a esquerda que não se compreende bem o que é ("A nova esquerda internacionalista devia começar por impedir o dumping social intra e extramuros que empurra a vida das pessoas para baixo." Medeiros Ferreira).
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Enfim, há de tudo e para todos os gostos. Afinal o que é a esquerda?

Lendo na blogosfera

A curiosidade pela vida de Joseph Ratzinger é a prova de como Bento XVI está a obrigar a Europa a pensar-se. A opinião de Pacheco Pereira, no Abrupto:
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Há um ano nunca compraria este livro (Jeanne Perego, A Baviera de Joseph Ratzinger), fosse qual fosse o seu mérito. Nunca tive muita curiosidade pelas biografias dos papas contemporâneos, antes de serem papas. Os trajectos dos papas italianos pareciam-me típicos da ascensão burocrática da institucional igreja suporte do Vaticano.Quando eles deixaram de ser italianos, interessei-me mais, mas, como João Paulo II era polaco, uma mistura entre a história da Polónia e do Solidariedade pareciam-me chegar. Como de costume há aqui muita ignorância, mas a verdade é que também não havia curiosidade.
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Com Joseph Ratzinger as coisas são diferentes. O interesse que o papa me suscita é intelectual e cultural, não é religioso per se. Traduz um movimento, que penso ser mais vasto, de reflexão identitária sobre a Europa, sobre as raízes civilizacionais da nossa história do "Ocidente", como sinal da espécie de kulturkampf que simultâneamente o fundamentalismo muçulmano e o seu terrorismo apocalíptico, denso de atitudes culturais e civilizacionais, e o chamado "multiculturalismo" trouxeram aos nossos dias. Ora, apercebemo-nos agora (de novo, a ignorância...), que o papa Bento XVI foi um dos intelectuais que com mais importância e influência pelo seu papel em muitos documentos da Igreja, tratou destas questões em termos teológicos, filosóficos, históricos e culturais.

Tudo em nome da justiça social

Sócrates promete ir aos bolsos da banca, em nome da justiça social, exigindo ainda que os bancos apresentem às finanças os seus planos de investimentos.

É por estes tiques que se vê o pior deste Governo. Já antes aconteceu relativamente ao sigílo bancário. Por que carga de água tem o Estado de se intrometer na vida das empresas, se as suas actividades não forem ilícitas? Trata-se de uma interferência inadmissível na esfera privada.
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E depois, se quer fazer de Robin Hood, então porque taxa os internamentos e corta nos medicamentos, nas pensões e nos subsídios aos deficientes, porque aumenta a carga fiscal e o custo da electricidade, num contexto marcado pelo desemprego, pelo trabalho precário e pelo envelhecimento da população?
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Como bem escreve Michael Novak em Defining Social Justice, a propósito de Hayek, [t]he trouble with "social justice" begins with the very meaning of the term. Hayek points out that whole books and treatises have been written about social justice without ever offering a definition of it. It is allowed to float in the air as if everyone will recognize an instance of it when it appears. This vagueness seems indispensable. The minute one begins to define social justice, one runs into embarrassing intellectual difficulties. It becomes, most often, a term of art whose operational meaning is, "We need a law against that." In other words, it becomes an instrument of ideological intimidation, for the purpose of gaining the power of legal coercion.
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Hayek points out another defect of twentieth-century theories of social justice. Most authors assert that they use it to designate a virtue (a moral virtue, by their account). But most of the descriptions they attach to it appertain to impersonal states of affairs ? "high unemployment" or "inequality of incomes" or "lack of a living wage" are cited as instances of "social injustice." Hayek goes to the heart of the matter: social justice is either a virtue or it is not. If it is, it can properly be ascribed only to the reflective and deliberate acts of individual persons. Most who use the term, however, ascribe it not to individuals but to social systems. They use "social justice" to denote a regulative principle of order; again, their focus is not virtue but power.
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Justiça social é uma invenção de intelectuais, que parece soar bem aos ouvidos do povo. Infelizmente.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Mártires do séc. XXI

Existem e não desistem de oferecer sabedoria e esforços para que a dignidade da vida humana conquiste cada vez mais territórios no planeta. Os mártires do séc. XXI são os que, por diferenciadas razões, entregam a vida pelo bem do outro.


A morte de dois missionários, em Moçambique, não nos pode deixar indiferentes. Não pode permitir que a vida tenha as fronteiras que o anoitecer parece transmitir, que os horizontes pessoais ultrapassem a rotina de todos os dias, que classes se enganem reciprocamente envolvidos em milhões do orçamento público.
Muito para além da nossa sombra, há vida feita de entrega, sem procurar dividendos, sem cobrar nada... Apenas vivida na mais genuína marca da pessoa humana: criar fraternidade.
Merece uma grande homenagem a Idalina, a leiga missionária que entregou dias da sua vida - afinal, toda a sua vida - ao serviço do outro. Merece que seja recordada como exemplo do que significa construir o mundo melhor.
O que este dia significa não pode deixar de servir para dar os Parabéns à coragem de muitos leigos que não têm medo de colocar à frente de um percurso profissional a entrega por causas humanistas, que a fé cristã confere sentido. Entre nós ou num canto qualquer do mundo

quarta-feira, novembro 08, 2006

A direita está desiludida com o orçamento

A direita que se cale.

Mais papista do que o Papa

Ficámos a saber pelo deputado Afonso Candal que os pensionistas com rendimentos mensais superiores a 600 euros vão ter de pagar IRS, e apenas sobre 0,3% do rendimento, ou seja, cerca de 25 euros anuais.
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É espantoso isto. Será que esta gente sabe o que está a fazer, ou será o desespero? É justo que quem aufira boas reformas, e há muitos na casa dos 3 000 / 4 000 euros, pague alguma coisa. Agora, cobrar 25 euros a pensões de 600 / 900 euros? E que tal cobrar um IRS que se visse somente às pensões acima dos 3/4 salários minímos? Não seria mais sensato?
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É caso para dizer que o PS está a ser...

segunda-feira, novembro 06, 2006

A luz da espititualidade

Enigmático, fascinante, rebelde, pintor dos maiores, Micheangelo Caravaggio foi o grande representante do barroco. As suas telas são rugosas, encrespadas de pastosidades e dominadas pela técnica superior como trata a luz, a sua grande dádiva à pintura.
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A luz é projectada sobre as formas com tal violência e intensidade, que realça os mais pequenos detalhes, em contraste brusco com as sombras, conseguindo assim criar um efeito tridimensional. Em O chamamento de S. Mateus é bem patente o domínio dos efeitos claro-escuro, combinados com uma apurada observação dos aspectos físicos. Caravaggio usa o povo comum da rua para retratar o aspecto mundano do acontecimento, enquanto a luz entra pelo quadro adentro por uma janela, simbolizando, num piscar de olhos, a conversão de Mateus.
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(O chamamento de S. Mateus)
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A pintura é o veículo de uma autêntica espiritualidade. O impacto realista que o pintor dá aos seus quadros é conseguido pelo fundo sempre razo, obscuro, muitas vezes totalmente negro, realçando a cena principal com focos intensos de luz principalmente sobre os rostos. As sombras e a luz atraem-nos para dentro do quadro, para o centro da cena, como fica bem demonstrado em A crucificção de S. Pedro. O apóstolo é mais pesado do que seu corpo envelhecido sugere e requer os esforços de três homens, como se o crime que perpretou pesasse já neles. Nesta crucifixão não há sangue mas dor.
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(A crucificção de S. Pedro)

Uma das facetas de Caravaggio são os seus quadros com temas da mitologia grega ou com alguma simbologia pagã, o que era condenado desde o fim do século XVI. Em Amor Vincit Omnia o pintor inspirou-se num verso das Éclogas de Virgílio, Omnia vincit amor et nos cedamus amori. É o triunfo do Amor sobre tudo o que representa o esforço humano - o violino e o alaúde, a armadura, a coroa, o esquadro e o compasso, a pena e o manuscrito, folhas e um globo astral.
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(Amor Vincit Omni)

Contra a pena de morte

Seja de quem fôr.

O Torquemada voltou a falar


O BE, alinhado pela voz do grande líder, entrou no debate sobre o referendo ao aborto:
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"Quando chegar a altura do referendo, o BE quer ser determinante para ajudar milhões de pessoas a mudar esta lei".
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"Sabemos que no sim está a humanidade e a convergência e no não está a intriga política e a agenda interna dos partidos".
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Fica aqui o registo, para memória futura, da arrogância, da acidez, do fel, que Louçã distila quando fala dos outros.

A frase do dia

"A direita é muito mais sensível aos temas da corrupção do que a esquerda, que tem uma dependência crónica do aparelho e das funções do Estado."
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Da insuspeita Maria José Morgado, durante uma palestra no Congresso do Partido Nova Democracia, 4-10-2006, no Público.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Reflectir sobre a guerra

(Clicar na imagem para ver o videoclip)
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Contador de histórias e guitarrista extraordinário, Robert Cray brinda-nos com mais uma canção que nos deixa em parafuso.
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Twenty conta-nos a história de um jovem inocente, que, após os acontecimentos de 9/11, deseja servir o seu país no Iraque. Não sabe, porém, que está indo ao encontro da morte.

When you're used up, where do you go
Soldier
Mother dry your eyes, there's no need to cry
I'm not a boy, it's what I signed up for
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When you're used up, where do you go
Soldier
I can't take the heat, and I hardly sleep anymore
What'd we come here for
Standing out here in the desert
Trying to protect an oil line
I'd really like to do my job but
This ain't the country that I had in mind
They call this a war on terror
I see a lot of civilians dying
Mothers, sons, fathers and daughters
Not to mention some friends of mine
Some friends of mine
.
Was supposed to leave last week
Promises they don't keep anymore
Got to fight the rich man's war
.
When you're used up, where do you go
Soldier
Late in 2004
Comes a knock at the door
It's no surprise
Mother dry your eyes

quinta-feira, novembro 02, 2006

Quadratura do círculo - A política à solta

O mais interessante do debate foi a visão minimalista de Pacheco Pereira (PP) sobre a questão.
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PP começou por juntar o plano ético ao religioso (como se ambos não se distinguissem), para depois enunciar que, nestas matérias, devemos seguir a tradição liberal saída da revolução francesa (palavras suas), ou seja, a esfera das decisões políticas e jurídicas deve ser separada dos critérios éticos. Assim, com esta desenvoltura, PP atira para fora de jogo o ético, resolvendo de uma penada dois problemas.

Claro está, livre como um pássaro, a argumentação ganha outra consistência, e a ordem política pode então dedicar-se a resolver os problemas práticos da vida em sociedade. Mas esta justificação tem tanto de esperteza como de perigosidade. PP sabe muito bem quais são as raizes filosóficas da Revolução francesa e as consequências políticas e sociais resultantes do racionalismo exarcebado. Ao reclamar para si esta tradição, PP assume não só uma atitude integralmente relativista face ao aborto, como sanciona toda a tradição dos super-homens, dos amanhâs que cantam, dos determinismos e dos totalitarismos de toda a espécie e feitio.
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PP perde também o direito de criticar o que quer que seja. Sem ética, onde está a decisão livre, onde estão os freios da sociedade, sobre que parâmetros se guia o jurídico, quais os limites da decisão política?
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Se a raízes liberais de PP são estas, assentes na crença de um homem criador intencional das boas instituições sociais, as minhas são bem outras, vêm de filósofos e pensadores como John Locke, Bernard Mandeville, David Hume, Josiah Tucker, Adam Ferguson, Adam Smith, Edmund Burke, Alexis de Tocqueville e Lord Acton.

Quadratura do círculo - Meia verdade

Queremos tanto justificar as nossas convicções que muitas vezes não vamos ao fim da argumentação. Vem isto a propósito da controvérsia sobre o começo da vida humana e as 10 semanas. Defendia José Pacheco que os dados da ciência não eram absolutos e que o critério das 10 semanas assentava no pressuposto da existência de um salto qualitativo.
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Veio-me logo à memória a teoria das revoluções científicas de Thomas Kuhn. Pacheco Pereira não deixa de ter razão. Só que os saltos qualitativos ocorrem sempre no quadro de um processo contínuo. Esqueceu-se...

Quadratura do círculo - Pacheco Pereira é hipócrita

Pacheco Pereira, defensor da despenalização, entende que as mulheres que abortem após as 10 semanas deveriam ser ilibadas, devendo ser imputadas as responsabilidades às clínicas, aos médicos e aos enfermeiros que prestarem tais serviços.
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Pela bitola de Jorge Coelho, Pacheco Pereira é um hipócrita.

Quadratura do círculo - Os hipócritas

Ontem no Quadratura do Círculo debateu-se o referendo ao aborto. Jorge Coelho, defensor do sim, chama hipócritas aqueles que, dizendo não, entendem que as mulheres não devem ser penalizadas.
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Segundo creio, hipócrita é alguém que manifesta uma posição ou sentimentos que verdadeiramente não assume na prática. Que tem isto a ver com o assunto?